terça-feira, 18 de maio de 2010

Arnaldo Tifu: "Apreciem o Hip-Hop brasileiro" - Parte II - Públicado no Central HIP HOP (BF) em 31/01/2010



Arnaldo Tifu, MC que começou suas rimas no Hip-Hop militante e desenvolveu a arte do improviso, continua sua conversa com Rodrigo Mendonça. Tifu lançou recentemente o CD "A Rima Não Para", um trabalho recheado com bons versos e muitos scratches. Confira a segunda parte da entrevista para o CHH.

Central Hip-Hop (CHH): Há alguns meses está circulando na Internet o sinlge “Pra Cascá” faixa extraída do disco "A Rima Não Para": “Essa é pro tiozinho curtir, pras minas dançar sacudir, pra vagabundo pirar e a pivetada pensar, essa é pra cascá”. Esta música sintetiza a ideia do álbum?
Arnaldo Tifu: Eu venho de um Hip-Hop militante, antes da preocupação só com a arte, a gente via outras questões, como as raciais, a questão das posses. Eu sou novo, mas sou da época das posses, quando o Hip-Hop se organizava dessa maneira. Quando eu escrevi o refrão de “Pra Cascá”, fiquei pensando na música Rap contribuir nessa questão das posses, de militância, sem ter uma sobrecarga. Eu venho de uma família onde é berço do samba, meu tio me ensinou a tocar tamborim.Ia pra escola de samba, meus primos cresceram fazendo samba, só que meu pai é nordestino, já ouvia muito os “embolador”, essa é a herança do freestyle que tenho.

Meu tio ouvia muito rock, Raul Seixas, Led Zeppelin, essa coisa toda. A gente sempre fez festa, apesar de não ter muita grana, acho que a necessidade de festejar e celebrar independe da necessidade financeira, a gente sempre se encontrava no quintal, pra fazer a batucada, conversar e jogar dominó, minha vó contar histórias, saca? E ai eu falei assim: vou tentar sintetizar isso nessa música, mas eu acho que todas as músicas falam um pouco do que é o álbum, porque é um filho, vamos pensar no que todo mundo fala, é um filho, então cada faixa é um organismo, um cromossomo e tal é uma parada que a gente vai movimentar, é o braço é a perna, é o dedo, ô ta faltando um dedo! Então a “Pra Cascá” é isso e eu quis mexer mesmo com essa coisa de tipo, dançar, pegar uma batida calorosa. DJ Nato PK me presenteou com o beat, eu disse: eu quero algo que ao mesmo tempo que seja dançante seja bem RAP mano, “repão”! Ele falou assim: ouve isso aqui!

CHH: Tifu, o selo Pau-de-dá-em-Doido lançou além da mixtape produzida pelo DJ Nato Pk, o disco solo do MC e seu parceiro Enézimo, Guerra Santa, Polemikaos, Armagedon, hoje quem faz parte do Coletivo e selo Pau-de-dá-em-Doido?
Tifu: Então, Pau-de-dá-em-Doido já existe fonograficamente há 10 anos, eu sou o mais novo integrante. Cheguei com essa idéia - vou ajudar na prensagem do disco também - eu entrei com essa visão de fazer parte do disco, não de ser um artista do selo, não, o selo é meu também... Saca? O selo é simples, DJ Nato Pk, Enézimo e Arnaldo Tifu, e ai tem o pessoal que trabalha com a gente, o Preto R, tem o Sagat que trabalha com a gente, com as parcerias, mas tem o selo dele, que é o Quarto Mundo, lançou D Preto, lança os discos dele, faz as paradas. Pau-de-dá-em-Doido dá uma força, Carlus Avonts, a gente dá um suporte, por que os caras andam com a gente, além de serem bons artistas, estão ali todo dia.

CHH: Arnaldo, para finalizar, o CHH deixa um espaço livre aqui para você falar aquilo que talvez não tenha dito em nenhuma música do disco “A Rima não Para”.
Tifu: Eu escrevi uma música que ia sair no álbum, que eu fiz no mesmo beat que saiu no disco do Enézimo que a gente chama de beat coletivo, que é um beat onde todos MCs da Pau-de-dá-em-Doido gostariam de rimar, o “De Boa Música”, Dj Nato foi excelente no corte dos samplers e tal. É uma música que fala sobre o Rap nacional, não tive a oportunidade de abordar diretamente sobre isso no disco. Gostaria de falar principalmente aos adeptos da cultura Hip-Hop no Brasil, que apreciam todos os seus elementos, que os B.Boys dancem as músicas de Rap brasileiro, ta ligado? Que os DJs toquem Rap brasileiro nas festas. A cultura Hip-Hop vai além do ego, da conversa: É vinil? É CD? É Serato? É Torck? É fita? Porque, se a gente for original mesmo, só ia ter show, se fosse essência, só ia ter show e acústico, não ia existir eletrônico. O pessoal fala da raiz... raiz...

O que que é raiz? Se antes os DJs tocavam nas fitas de rolo...ta ligado? Toquem a música e propaguem a cultura, aí o Rap vai ser bom suficiente pra voltar a colocar discos de vinil no mercado sabe? Os grafites não ficar só nas faixadas? A arte tem que estar na galeria, mas tem que ta na rua também, ta ligado? Os MCs têm que falar dos graffitis. Os bboys têm que vestir o graffiti, porque o Hip-Hop é a união dos elementos. Então por que fragmentar? Senão a gente volta na coisa das quebradas, quebradas só se chamam quebradas por que estão fragmentadas, mas no dia que a gente recuperar, reconstituir, elas não serão chamadas de quebradas, vai ser inteiro, saca? O Hip-Hop é uma manifestação popular, não é uma manifestação de massas, é diferente, é popular, é do povo pra uma maioria, pro povo. Comunicação é importante também, mas não necessita estar em grandes meios de comunicação. Eu fui numa palestra na Uninove, entramos nesse debate e tal, aí o cara da platéia falou assim: é... se vocês querem tanto que o Hip-Hop esteja na mídia, por que vocês não vão na mídia? Eu falei pra ele: quem falou aqui que o Hip-Hop tem que estar na mídia? Nós somos a mídia, o Hip-Hop é uma mídia própria. O Hip-Hop precisa de pessoas que amam e compreendem a cultura. Apreciem o Hip-Hop brasileiro, toquem rap nacional. Força, axé pro povo! É isso ai!

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